Uma Vida Dedicada à Cultura

No dia 16 de janeiro, Campinas perdeu uma de suas figuras mais ilustres e influentes na cena cultural e artística da cidade: Léa Ziggiatti. Pedagoga, bacharel em Direito, jornalista e exímia musicista, ela deixou um legado significativo ao longo de mais de cinco décadas como mantenedora do Conservatório Carlos Gomes. Sua contribuição não se limitou apenas à administração do Conservatório, mas estendeu-se ao campo jornalístico, onde, por muitos anos, ela dedicou-se a escrever sobre arte e cultura, tornando-se uma voz respeitada e reconhecida.

Léa Ziggiatti, ao longo de sua vida multifacetada, desbravou caminhos em diversas áreas do conhecimento. Sua formação acadêmica em Direito nunca foi sua verdadeira paixão, como ela mesma afirmava, mas foi no jornalismo e na música que encontrou sua verdadeira vocação. Sua jornada começou como pianista e flautista, mas seu amor pela arte a levou a explorar outras formas de expressão, incluindo o jornalismo cultural.

A partir de 1981, Léa Ziggiatti deixou sua marca nos periódicos locais, começando sua colaboração no extinto Diário do Povo e posteriormente no Correio Popular. Foi no Correio Ilustrado, precursor do atual Caderno C, que ela consolidou sua presença como uma das principais comentaristas culturais da cidade. Seus textos eram mais do que meras análises; eram manifestações de uma paixão profunda pela cultura e pela arte, refletindo sua visão única e apreciação pelas diversas manifestações artísticas.

No entanto, o Conservatório Carlos Gomes foi o epicentro de sua atuação e o coração pulsante de seu legado. Sob sua direção, o Conservatório não era apenas uma instituição de ensino musical, mas um verdadeiro símbolo de resistência cultural em Campinas. Léa Ziggiatti acreditava no poder transformador da arte e da música na sociedade, e esse princípio norteou suas decisões e ações ao longo dos anos.

Dentro das paredes do Conservatório, floresceram talentos que moldaram o cenário cultural e artístico não apenas em Campinas, mas em todo o país. A orquestra que se originou ali evoluiu para a renomada Sinfônica de Campinas, que continua a encantar plateias até os dias de hoje. O Coral Meninos Cantores de Campinas, também gerado sob sua gestão, é um testemunho da dedicação de Léa Ziggiatti em proporcionar oportunidades e desenvolver talentos desde tenra idade.

Não se pode ignorar a contribuição fundamental do Conservatório na formação de artistas de diversas áreas. Nomes como Edgar Rizzo e Zé de Oliveira, representantes do teatro; Regina Duarte, que trilhou seu caminho na televisão; Paulo Cheida e Jésus Seda, expoentes das artes plásticas; Dulce Mirian Schmidt, renomada na dança; e Deise de Lucca e Paulo Steinberg, que deixaram sua marca na música, são apenas alguns exemplos de talentos que tiveram seus primeiros passos artísticos dentro das salas do Conservatório Carlos Gomes.

Além dos artistas consagrados, um levantamento informal indica que mais de mil profissionais das artes passaram pelos cursos técnicos oferecidos pelo Conservatório. Esse número expressivo é uma evidência do impacto duradouro de Léa Ziggiatti na formação e no desenvolvimento de uma comunidade artística vibrante em Campinas e além.

Léa Ziggiatti não era apenas uma administradora e educadora; ela era uma visionária que via na cultura e na arte instrumentos poderosos para construir uma sociedade mais rica, expressiva e conectada. Sua abordagem inclusiva permitiu que o Conservatório se tornasse um espaço acolhedor para artistas de todas as idades e origens, contribuindo para a diversidade e vitalidade do cenário cultural da região.

A partida de Léa Ziggiatti deixa um vazio significativo na comunidade artística e cultural de Campinas, mas seu legado continuará a inspirar gerações futuras. Seja através das melodias da Sinfônica de Campinas, das performances teatrais, das obras de arte ou dos passos de dança, a presença de Léa Ziggiatti permanecerá viva, recordando-nos da importância da cultura e da arte como agentes de transformação em nossas vidas. Campinas perdeu uma de suas grandes líderes culturais, mas ganhou um legado que continuará a ressoar por muitos anos.

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